terça-feira, 1 de abril de 2008

Bemquererbem

Sabe quando alguém desperta em você o mais genuíno desejo de ser a melhor pessoa do mundo? Faz você arrumar o seu guarda-roupas, acertar a hora do seu relógio, escrever com letra bonita, querer ficar muito, muito inteligente, ler até os olhos queimarem, ouvir de tudo pra saber falar de tudo, saber tudo de cinema, teatro, televisão, astrologia, matemática financeira e a primavera na Patagônia, manter-se calma em momentos que nem um monge tibetano o conseguiria, ter bom-humor do nascer ao pôr-do-sol, parar de falar palavrão (ou falar três vezes mais), parar de beber (ou beber três vezes mais), gostar de carnaval e missa e circo e hórário eleitoral e confissões comunitárias e distribuir sopa, dar bomdia boatarde boanoite comlicença obrigada e desculpe a tudo e a todos, ajudar uma velhinha a atravessar a rua, alimentar um cachorrinho abandonado, achar tudo muito legal e muito bacana e também muito careta e arrogante e. Também faz você ser muito, muito responsável, muito, muito generosa, muito, muito paciente, muito, muito interessante e muito, muito mais um bando de coisas? Faz você querer ser alguém realmente melhor? Pois é. Mas ninguém consegue ficar embaixo d'água muito tempo. Aí você precisa voltar à superfície e respirar e descobre que não tem ninguém na borda. Quando você sai da água se sentindo completamente baldia, o vê chegando de calção (adoro esse termo) com escafandro, óculos de mergulho e um par de pés-de-pato, mas é tarde demais e você não poderia imaginar que ele se preparava para finalmente mergulhar com você. Então, instantaneamente, você se transforma na pior pessoa do mundo, muito, muito malvada por deixá-lo mergulhar sozinho, não fazendo a menor diferença o fato de você ter passado três séculos e meio lá embaixo esperando por ele - sozinha - e sem equipamento nenhum .
[e-mail mandado pela Sávia, que muito me contempla (o e-mail e ela)]