quarta-feira, 5 de setembro de 2007

Na curva do São Paulo

“Eita mermã, mas aqui tem gente demais!”
Essa foi uma das primeiras frases que ouvi ao chegar no domingo na inauguração da Curva do São Paulo, uma espécie de balneário feito para o lazer do povão, um Piscinão de Ramos do Piauí.
E foi uma inauguração e tanto, com direito a show do Frank Aguiar, frito de frango, cachaça vagabunda e bares lotados.
A estrutura me surpreendeu, os bares todos padronizados, coqueiros a beira-rio e um calçadão. Parecia uma praia mesmo, até o vento contribuiu para uma bela paisagem.
Apesar de uma multidão gritante e da quase impossibilidade de alguém caminhar tranqüilo por lá, me diverti muito. Primeiro porque um bocado de pobre junto é uma graça, cito aqui um caso que presenciei enquanto tomava uma cerveja ao pé do balcão (já que todas as mesas de todos os bares estavam ocupadas): Era uma família, mais ou menos 10 pessoas, almoçavam o que trouxeram de casa, arroz, calabresa e frango frios. Gritavam, sorriam e fumavam US, cuspindo farofa e sujando tudo. Não agüentei quando a senhora tirou uma melancia da sacola do Carvalho, um dos garotos chorou desesperadamente por um pedaço da fruta, e a mulher (parecia ser a avó) tranqüilizou-o com um singelo “CALA BOCA, CARA DE BUCETA!”.
Tive medo dela.
Esse foi um domingo e tanto, sorri com os caras bêbados caindo, as mulheres quase sem roupas, quando não com biquíni e cabelo escovado, como assim?!
“Atenção, pais do Danilo, ele ainda está aqui no palco perdido”.
“Joeldison, alguém conhece o Joeldison?”.
“Ah mulher, se não fosse nós pra alegrar esse povo né?!”.
“Tatu hoje aqui é no balde”.
Essas foram mais algumas frases que escutei por lá, e que me fizeram soltar boas gargalhadas.
E ainda tem a mulher dona da casa onde deixamos a moto, ela tava banhado pelada no quintal de casa e mandou a gente entrar e pegar a moto, e não se deu ao trabalho ao menos de se cobrir, “Somos todas iguais mesmo”, disse ela.
Disseram-me mais tarde que ninguém via o Frank Aguiar, a poeira cobria tudo. Não fiquei pra ver. Escutei até uma mulher dizendo: “Vir pra cá foi a segunda maior besteira da minha vida”.
Tive notícia hoje da morte de um jovem, afogou-se no rio, e essa parte é triste, o que era divertido passa a ser trágico, e espero muito que esse final não se repita, para que todo mundo tenha direito a bons momentos de lazer seguro e que saibamos cuidar para que seja assim.