sábado, 4 de agosto de 2007

homenagem aos "Bohemios"...


O bar perfeito não só não existe como não pode existir, é a nostalgia do que nunca houve.O diabo é que Teresina não tem nem um bar quase-perfeito onde se maldizer a falta do Bar perfeito. É um deserto de fórmica e azulejos.
Tem o bar X . O bar Y . Mas em ambos falta aquele indefinível... o que?! Não sei, é indefinível que distingue um bom bar perfeito. Mas as pessoas tratam de negócios no bar X e no bar Y, negócios razoáveis,viáveis, e o bar Perfeito deve ser o ultimo refúgio do ócio inteligente. Só deve tratar de negócios impossíveis no Bar Perfeito. Você deve avisar ao barman que só atendera ao telefone se for uam mulher com pronúncia eslava para tratar de jóias, você faz sinal que não está e depois, melancolicamente, para o Old Fashioned .
O barman do Bar perfeito deve ser, antes de tudo, um mentiroso. Ele atendia o bar o Ritz de Paris quando Scott Fitzegerald o freqüentava, foi ele que dissuadiu o escritor de subir no monumento da Place Concorde e fazer xixi no povo. O barmen do Bar perfeito guardará recados, seria uma central de banalidades. O Dr. Tal deixou dito que passará as sete e e tem algum recado. Diga ao Dr. Que eu estive aqui e tomei um uísque e que fora isso não nenhum recado. O Dr. Rui perguntou se interessa um emprego no times, doze mil dólares por mês pra não fazer nada. Diga ao Dr. Fulano .... (e assim toda a sociedade cult se comenta)...
Haveria um pianista bêbado no Bar Perfeito? Um item a discutir. Play it again sam, ele toca e todo mundo chora. Ninguém pagaria suas contas no Bar Perfeito. Proibiríamos a entrada de todo mundo no Bar Perfeito, menos uns 17 eleitos. Uma vez por mês seria admitido um chato e ritualmente envenenado.O Bar Perfeito certamente iria a falência em menos de um ano. Mas ai pelo menos teríamos uma memória a lamentar o que é melhor do que nada...


*texto de Luiz Fernando Veríssimo adaptado para esse blog!

(LFV, a Mesa voadora, o bar perfeito- Rio de Janeiro: objetiva,2001